O IPCA-15 registrou uma alta de 0,44% em maio, abaixo das expectativas do mercado – pesquisa Reuters era de 0,48% – e acima dos 0,21% de abril. Nos últimos 12 meses, o índice acumula uma alta de 3,70%, abaixo dos 3,77% registrados no mês anterior.

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito registraram variações positivas em maio. Destaque para os grupos Saúde e cuidados pessoais (1,07%) e Transportes (0,77%), que tiveram os maiores impactos no índice do mês, 0,14 p.p. e 0,16 p.p, respectivamente.

No primeiro segmento, o reajuste de até 4,50% nos preços dos medicamentos a partir de 31 de março foi o principal fator que impulsionou a alta no mês.

Já no segundo, as passagens aéreas subiram 6,04%. Em relação aos combustíveis (2,10%), somente o gás veicular (-0,11%) registrou queda, enquanto o etanol (4,70%), a gasolina (1,90%) e o óleo diesel (0,37%) tiveram alta nos preços.

Apesar de um IPCA mais forte que abril, observamos um qualitativo positivo. Houve uma desaceleração, tanto na variação mensal quanto anual, da inflação de serviços subjacentes.

Serviços intensivos em mão de obra desaceleram na variação mensal e se mantiveram estáveis nos últimos 12 meses. A média dos núcleos passou de 3,56% em abril para 3,45% em maio.

E, o índice de difusão registrou uma alta marginal.

Além disso, quando observamos a média móvel de três meses anualizada e ajustada sazonalmente, os principais grupos como o índice cheio, serviços subjacentes, serviços intensivos em mão de obra e média de núcleos arrefeceram.

Este último passou de 3,47% em abril para 2,87% em maio, abaixo da meta de 3,0%.

Os dados são uma boa notícia e continuam refletindo uma melhora na inflação corrente, que segue desacelerando nos últimos meses, apesar de se manter acima da meta de 3,0%.

Ressaltamos dois pontos que seguem no nosso radar:

i) a inflação de alimentos por conta da tragédia no Rio Grande do Sul (RS); e

ii) as expectativas de inflação.

O IPCA-15 de maio ainda não captou os impactos da tragédia no RS. Apesar da colheita de algumas culturas já terem sido feitas, a logística está comprometida – tanto para o escoamento quanto o recebimento de insumos – o que pode pressionar os preços dos alimentos.

Só saberemos real impacto sobre a região após a água abaixar, mas a expectativa inicial é de um impacto de 0,1 p.p. a 0,2 p.p sobre o IPCA de 2024.

O segundo ponto é que as expectativas inflação retiradas do Boletim Focus seguem subindo. Na divulgação desta semana, as expectativas para 2024 e 2025 cresceram pela terceira e quarta semana consecutiva, respectivamente.

E, a expectativa de 2026, que estava estacionada em 3,50%, passou para 3,58%.

Entre os motivos que explicam essa desencorajem são as dúvidas em relação à política fiscal brasileira, a credibilidade do Banco Central e especulações com o compromisso da autoridade monetária em atingir a meta de inflação.

Assim, considerando esse contexto, espera-se que a autoridade monetária adote uma abordagem cautelosa em suas próximas reuniões, mesmo com um cenário de inflação corrente benigna.

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Para o próximo Copom, estimamos um corte de 0,25 p.p. na taxa Selic.

No entanto, se houver uma piora no cenário tanto internacional quanto doméstico, o Banco Central pode optar por manter a taxa de juros no atual patamar de 10,50% a.a.

Por Gustavo Sung | Economista-chefe da Suno Research