Ray Dalio é um grande estudioso dos Ciclos Econômicos. Na visão do investidor, a economia funciona como uma máquina simples.

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Saber como funciona a economia e seus ciclos o ajudou a antecipar e contornar as crises financeiras ao longo de seus mais de 50 anos de carreira.

Em seu YouTube, Ray Dalio compartilha um vídeo explicando como funciona a máquina econômica, em 30 minutos. 

Segundo ele, embora a economia pareça complexa, ela funciona de maneira simples e mecânica.

Sendo composta de transações que são repetidas várias vezes ao longo dos anos.

Entender como funciona a economia e seus ciclos pode te poupar de muito sofrimento econômico desnecessário.

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A máquina simples da economia

Na visão de Ray Dalio, a economia é composta pela soma de todas as transações realizadas.

A transação, por sua vez, é qualquer troca. Para que ela ocorra é necessário um comprador, que deseje trocar dinheiro ou crédito e um vendedor, que tenha bens, serviços ou ativos financeiros.

Essas transações são impulsionadas pela natureza humana e criam 3 forças principais que moldam a economia:

1: Crescimento da produtividade;

2: O ciclo da dívida de curto prazo;

3: O ciclo da dívida de longo prazo.

As 3 forças que movem a economia Ray Dalio
As 3 forças que movem a economia. Fonte: How The Economic Machine Works - Ray Dalio

1. Crescimento da Produtividade 

O crescimento da produtividade, que é medido como porcentagem do PIB, cresce ao longo do tempo à medida que o conhecimento, a tecnologia e as inovações ajudam a aumentar nossa produtividade e nossos padrões de vida.

2. Ciclo da dívida de curto prazo

Geralmente com duração de 5 a 8 anos, o ciclo da dívida de curto prazo é um padrão repetitivo que ocorre à medida que o crédito se expande e se contrai.

3. Ciclo da dívida de longo prazo

Geralmente com duração de 75-100 anos, o ciclo da dívida de longo prazo geralmente termina em um período de extrema desalavancagem, onde a dívida global é insustentável e os preços dos ativos caem.

Juntas, essas 3 forças formam o ciclo da economia.

ciclo da economia
Fonte: How The Economic Machine Works - Ray Dalio

Governo: maior comprador e vendedor 

Em uma economia, o maior comprador e vendedor é o governo, que, por sua vez, é composto por dois órgãos de extrema importância:

  • Governo Central: responsável por arrecadar impostos e "gastar"o dinheiro investindo em obras de infraestrutura para atender o bem estar da população;
  • Banco Central: responsável por controlar a quantidade de dinheiro e crédito na economia.

Para exercer tal função, o Banco Central pode:

  • Controlar as taxas de juros;
  • Imprimir dinheiro novo.

Isso o torna um órgão  fundamental para o fluxo de crédito.

Crédito: a parte mais importante da economia

Segundo Dalio, o crédito é a parte mais importante da economia e, também, a menos compreendida. 

O crédito é capaz de ampliar o poder de compra de um indivíduo acima de sua produtividade. 

Dessa forma, o tomador pode ampliar seus gastos e manter o funcionamento da economia.  Afinal, o gasto de uma pessoa é a receita de outra.

Da mesma forma que compradores e vendedores realizam transações, credores e tomadores de crédito também o fazem. 

Geralmente o desejo do credor é transformar seu dinheiro em mais dinheiro. 

Para isso, ele empresta seu dinheiro com a condição de receber no futuro a quantidade emprestada (principal) acrescida de uma taxa estabelecida (juros).

Por outro lado, o tomador de crédito deseja comprar um bem ou serviço que não consegue pagar de imediato, por isso pega emprestado.

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credito Ray Dalio
Fonte: How The Economic Machine Works - Ray Dalio

O crédito é complicado porque tem nomes diferentes. 

Assim que o crédito é criado, ele imediatamente se transforma em dívida, que ao mesmo tempo é ativo para o credor e um passivo para o devedor.

Quando as taxas de juros estão elevadas, o crédito é desestimulado, uma vez que o tomador de crédito terá de pagar mais para sanar a dívida. 

O contrário também é verdadeiro. Quando o Banco Central reduz as taxas de juros, ele estimula o crédito, tornando-o mais barato.

O aumento da renda permite o aumento dos empréstimos que permite o aumento dos gastos. 

Como os gastos de uma pessoa são a renda de outra, isso leva a mais empréstimos e assim por diante. 

Esse padrão de auto-reforço leva aos ciclos da economia.

Em uma transação, uma pessoa precisa dar algo para obter algo.

Aprendemos que o quanto você ganha depende de quanto você produz ao longo do tempo.

Assim, um indivíduo mais esforçado e trabalhador aumenta sua produtividade mais rápido do que pessoas acomodadas. Consequentemente, aumenta seu padrão de vida, o que chamamos de crescimento da produtividade.

Crescimento da produtividade

O crescimento da produtividade Ray Dalio
O crescimento da produtividade. Fonte: How The Economic Machine Works - Ray Dalio

O crescimento da produtividade é um fator que influencia no longo prazo, pois, como não flutua muito, não é um grande impulsionador das oscilações econômicas.

No curto prazo, a dívida é mais importante porque nos permite consumir mais do que produzimos quando a adquirimos e nos obriga a consumir menos do que produzimos quando pagamos de volta. 

Importância da dívida no curto prazo Ray Dalio
Importância da dívida no curto prazo. Fonte: How The Economic Machine Works - Ray Dalio

As oscilações da dívida ocorrem em dois grandes ciclos:

  • Ciclo de dívida de curto prazo: que leva cerca de 5 a 8 anos;
  • Ciclo de dívida de longo prazo: que leva cerca de 75 a 100 anos.

Essas oscilações em torno da linha não se devem a quanta inovação ou trabalho árduo existe, mas principalmente à quantidade de crédito existente.

Em uma economia sem crédito, a única maneira de aumentar os gastos é aumentar a renda, o que exige que produza mais, uma vez que este é o único caminho para o crescimento. 

Se acompanharmos as transações, veremos uma progressão como a linha de crescimento da produtividade, mas como tomamos emprestado, temos ciclos. 

O empréstimo é simplesmente uma maneira de impulsionar os gastos.

Assim, para comprar algo que você não pode pagar, pede emprestado ao seu eu futuro. Ao fazer isso, você cria um tempo no futuro em que você precisa gastar menos do que ganha para pagá-lo de volta. 

Crédito é diferente de dinheiro

Ray Dalio nos apresenta a diferença entre dinheiro e crédito.

Dinheiro é com o que você fecha transações.

Por exemplo, quando entra em um estabelecimento, compra um produto e paga com dinheiro, a transação é fechada imediatamente. 

Já quando se compra no crédito, é como se abrisse uma conta ‘fiado’, na qual você promete pagar no futuro.

É como se criasse um ativo para o dono da loja e um passivo para você. Só quando você efetivamente paga o passivo desaparece, a transação é encerrada.

Assim, na economia o que a maioria das pessoas chama de dinheiro é, na verdade, crédito. 

Ele nos dá o exemplo dos Estados Unidos onde o montante de crédito na economia é de aproximadamente 50 trilhões de dólares. Já o dinheiro na economia é de cerca de 3 trilhões de dólares.

A economia precisa de crédito. Essa é única forma de aumentar os gastos e permitir que a renda aumente mais rapidamente do que a produtividade no curto prazo. 

O crédito pode ser bom ou ruim.

Ele é bom quando aloca recursos de forma eficiente e produz renda para que você possa pagar a dívida.

Mas é ruim quando financia o consumo excessivo que não pode ser pago de volta.

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Dívida boa x dívida ruim

Dessa forma, existem bons e maus usos de crédito. 

Uma dívida/crédito pode ser considerada boa quando ela serve para  aumentar sua renda no futuro. 

Como, por exemplo, pedir um empréstimo para abrir um negócio ou comprar um maquinário que vai ajudar a ganhar dinheiro e pagar o débito.

Por outro lado, ela é uma dívida ruim quando não te ajuda a devolver o dinheiro.

O empréstimo cria ciclos. Se o ciclo sobe, eventualmente precisa descer. Isso nos leva ao Ciclo da Dívida de Curto Prazo.

Ciclo da Dívida de Curto Prazo

Enquanto a atividade econômica aumenta, vemos uma expansão da economia e os gastos continuam a aumentar levando os preços consigo. 

Isso ocorre porque o aumento dos gastos é alimentado pelo crédito, que pode ser gerado instantaneamente.

Quando a quantidade de renda cresce mais rápido que a produção de bens, os preços sobem. Na economia, isso se chama inflação.

Quando o banco central vê que os preços aumentaram demais, ele aumenta as taxas de juros. 

Com isso, o crédito fica mais caro e menos pessoas podem arcar com os empréstimos.

Com menos dinheiro, as pessoas gastam menos.

Lembre que o gasto de uma pessoa é a renda de outras.

Com as pessoas gastando menos, os preços caem. Isso é chamado de deflação

Se a atividade econômica diminuir, temos uma recessão

Quando a inflação deixa de ser um problema, o banco central diminui as taxas de juros, para aumentar a atividade econômica novamente. 

Nesse processo podemos ver que a economia funciona como uma máquina. 

No ciclo de débito a curto prazo, quando o crédito está facilmente disponível, há uma expansão econômica.

Quando o crédito não está facilmente disponível, há uma recessão. 

Esse ciclo é controlado principalmente pelo banco central e dura cerca de 5 a 8 anos, acontecendo repetidas vezes através das décadas.

Tempo do ciclo da dívida de curto prazo Ray Dalio
Tempo do ciclo da dívida de curto prazo. Fonte: How The Economic Machine Works - Ray Dalio

Através destes ciclos, Ray Dalio mostra que o ápice e a base de cada ciclo termina maior que a do último, com mais crescimento e mais débito. 

Cada ciclo é maior  Ray Dalio
Cada ciclo é maior que o último. Fonte: How The Economic Machine Works - Ray Dalio

Isso é causado pela natureza humana, que possui mais inclinação a emprestar e gastar mais em vez de pagar dívidas.

Por causa disso, por longos períodos de tempo, as dívidas aumentam mais rapidamente do que as rendas, criando o Ciclo da Dívida de Longo Prazo.

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Ciclo da Dívida de Longo Prazo

Apesar das pessoas se tornarem mais endividadas, os credores concedem crédito ainda mais livremente porque todo mundo acha que as coisas estão indo muito bem.

Os rendimentos aumentaram, os valores dos ativos estão subindo, todos correm para comprar bens, serviços e ativos financeiros com dinheiro emprestado.

Embora as dívidas estejam crescendo, as rendas estão crescendo quase tão rápido quanto para compensá-las.

Mas o que as pessoas não percebem é que na verdade estão em uma bolha que mais cedo ou mais tarde, vai estourar.

Ao longo de décadas, os encargos da dívida aumentam lentamente, criando pagamentos de dívida cada vez maiores.

Em algum momento, os pagamentos de dívidas começam a crescer mais rápido do que a renda, forçando as pessoas a reduzir seus gastos.

Uma vez que os gastos de uma pessoa são a renda de outra, a renda começa a cair e o ciclo se inverte. É o que Ray Dalio chama de pico da dívida de longo prazo.

Pico da dívida de longo prazo Ray Dalio
Pico da dívida de longo prazo.  Fonte: How The Economic Machine Works - Ray Dalio

Nesse ponto, os encargos da dívida simplesmente se tornaram muito grandes e a economia começa a desalavancar.

Desalavancagem

Conforme a renda cai e os pagamentos de débitos crescem, os mutuários não tem mais como emprestar dinheiro para pagar seus débitos e são forçados a vender ativos. 

É nesse ponto que o mercado imobiliário entra em colapso, as ações caem e os bancos ficam com problemas. 

Nesse cenário, o crédito desaparece rapidamente. Menos gastos  gera menos renda, menos riqueza, menos crédito, menos empréstimos e assim por diante. É um ciclo vicioso similar a uma recessão. 

A diferença é que em uma recessão, diminuir as taxas de juros funciona para estimular os empréstimos, mas em um desalavancamento, reduzir as taxas ainda não funciona, pois elas já estão baixas. 

Em uma desalavancagem, o grande problema é que os encargos da dívida são muito altos e devem ser reduzidos.

Existem quatro maneiras de isso acontecer:

1. Pessoas, empresas e governos cortam seus gastos;

2. As dívidas são reduzidas por inadimplência e reestruturações;

3. A riqueza é redistribuída dos 'mais ricos' para os 'mais pobres';

4. O Banco Central imprime dinheiro novo. 

Essas 4 formas aconteceram em todas as desalavancagens da história moderna.

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Corte de gastos

Normalmente, os gastos são cortados primeiro. Dessa forma, pessoas, empresas, bancos e até governos apertam os cintos e cortam seus gastos para que possam pagar suas dívidas. 

Quando os mutuários param de assumir novas dívidas e começam a pagar dívidas antigas, você pode esperar que o peso da dívida diminua, mas acontece o contrário.

Como o gasto de uma pessoa é a renda de outra, quando os gastos são cortados, há uma queda na renda. Isso acontece mais rápido do que as dívidas são pagas.

Com isso, as empresas são obrigadas a cortar custos, gerando aumento de desemprego.

Débitos reduzidos

Quando as pessoas estão endividadas e não conseguem pagar o banco, outras pessoas começam a se preocupar que o banco vá ficar sem dinheiro para pagá-las. 

Por isso, se apressam para retirar seu dinheiro do banco levando a uma severa contração econômica chamada de depressão.

Como os donos de ativos, como bancos, não querem ver seu dinheiro desaparecer dessa forma, eles concordam em reestruturar o débito. 

Isso significa fazer um acordo para o pagamento da dívida, mesmo que em um prazo mais longo ou com uma taxa de juros menor do que a contratada inicialmente. 

Apesar de esta não ser uma situação ideal para o credor, ele prefere receber um pouco do que nada.

Riqueza redistribuída

Como muitas pessoas perderam seus empregos, os governos criam planos de estímulo e aumentam seus gastos como forma de compensar a diminuição na economia.

O problema é que isso aumenta o déficit governamental, já que eles estão gastando mais do que arrecadam em taxas.

Para financiar seus déficits, os governos precisam aumentar os impostos.

Com a queda da renda da população, os mais pobres não são capazes de pagar ainda mais taxas, então os governos aumentam os impostos sobre os mais ricos.

Essa redistribuição da riqueza na economia, dos mais ricos para os mais pobres, pode levar a tensões sociais, desordem e mudanças políticas extremas

As tensões aumentam não só dentro dos países, como também podem aumentar entre países, especialmente países devedores e credores.

Tudo isso cria uma pressão pelo fim da depressão. 

Impressão de mais dinheiro

Já tendo baixado suas taxas de juros para quase 0, o Banco Central é forçado a imprimir dinheiro. 

Ao contrário do corte de gastos, redução da dívida e redistribuição de riqueza,

imprimir dinheiro é inflacionário.

Inevitavelmente, o banco central imprime dinheiro novo e o usa para comprar ativos financeiros e títulos do governo.

Ao fazer isso, ajuda a aumentar os preços dos ativos, o que torna as pessoas mais dignas de crédito. 

O banco central pode imprimir dinheiro, mas só pode comprar ativos financeiros.

O Governo Central, por outro lado, pode comprar bens e serviços e colocar dinheiro nas mãos do povo, mas não pode imprimir dinheiro. 

Então, para estimular a economia, os dois devem cooperar.

Ao comprar títulos do governo, o Banco Central basicamente empresta dinheiro ao governo,

permitindo que incorra em déficit e aumente os gastos em bens e serviços por meio de seus programas de estímulo e subsídio de desemprego. 

Isso aumenta a renda das pessoas, bem como a dívida do governo. No entanto, reduzirá o peso total da dívida da economia. 

Este é um momento muito arriscado. Os formuladores de políticas precisam equilibrar o corte de gastos, a redução de dívidas, a transferência de riqueza e a impressão de dinheiro para manter a estabilidade econômica e social.

Se balanceado corretamente, as dívidas caem em relação à renda, o crescimento econômico real é positivo.

Imprimir dinheiro só aumentará a inflação se não compensar a falta de crédito, já que o que importa são os gastos. 

Portanto, se bem manuseado, eventualmente resolverá o problema. 

Leva cerca de uma década ou mais para que os encargos da dívida caiam e a atividade econômica volte ao normal, daí o termo 'década perdida'.

Regras de ouro

O vídeo termina com Dalio dando três regras básicas que fazem sentido para indivíduos, empresas e formuladores de políticas.

Regra 1. Não faça a dívida subir mais rápido do que a renda

Seus encargos de dívida acabarão por esmagá-lo.

Regra nº 2. Não faça com que a renda aumente mais rápido que a produtividade

Você acabará se tornando não competitivo.

Regra nº 3. Faça tudo o que puder para aumentar a produtividade

No longo prazo, isso é o que mais importa.

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