O Ibovespa ainda tem espaço para alta, principalmente em relação a outras opções de investimentos, dado o cenário de juros baixos no país, embora tende a ser menor após a forte recuperação desde as mínimas do ano, avalia o estrategista-chefe da XP Investimento, Fernando Ferreira.

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“Em relação à renda fixa, ainda há um potencial bastante interessante de valorização. Mas do movimento total de recuperação, desde os 60 mil pontos, sem dúvida, boa parte já aconteceu”, afirmou Ferreira à Reuters na quarta-feira, quando o Ibovespa quase bateu os 100 mil pontos.

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Após encostar nos 120 mil pontos em janeiro, o índice afundou em março por causa da Covid-19, chegando a 61.690,53 pontos no pior momento. Desde então, já subiu mais de 60%, apoiado na forte liquidez nos mercados, resultado de medidas de combate aos efeitos econômicos da pandemia, bem como sinais de rápida retomada principalmente da China e dos Estados Unidos.

“Isso fez com que a gente chegasse até aqui mais rápido do que se esperava”, afirmou, citando ainda o arrefecimento das tensões políticas no Brasil como componente para a reação.

Ele ponderou que o país ainda não saiu das crises de saúde, econômica e política, e que a temporada de resultados de empresas do segundo trimestre deve mostrar números ruins, mas que os ativos estavam tão depreciados que a melhora mesmo marginal no cenário bastou para a recuperação.

Apesar da alta recente, o Ibovespa ainda acumula queda de 14% no ano, desvalorização que sobe a 35% em dólar.

Para Ferreira, o prognóstico de o Brasil sair da crise com juros ainda menores do que entrou trará tanto mais atratividade a investimentos na economia real como mais migração da renda fixa para variável. “Não só de pessoas físicas, mas de fundos multimercado e fundos de pensão que ainda estão muito subalocados em bolsa”, afirmou.

Ferreira e equipe revisaram no começo do mês passado sua projeção para o Ibovespa para o final do ano de 94 mil para 112 mil pontos. Ele não descarta eventuais ajustes na expectativa no curtíssimo prazo, mas sinalizou que deve esperar a safra de resultados do segundo trimestre.

Para o estrategista, o principal risco para o cenário de recuperação das ações no país seria uma nova onda de casos de Covid-19 no mundo que traga um grande impacto econômico, com a volta das restrições de movimentação de pessoas.

Nos EUA, apesar do aumento de casos, ele observa que isso não está acompanhado de crescimento nas hospitalizações e mortes, “que é o que o mercado está prestando atenção, pois levaria a novo fechamento de fronteiras, da atividade econômica, fazendo o mercado sofrer”. Além disso, o protocolo médico melhorou muito nos últimos três meses.

UPSIDE

Em meio à reação do Ibovespa, com algumas ações já tendo revertido as perdas no ano, Ferreira afirma que os ‘upsides’ estão em papéis de empresas de qualidade, bem geridas e com bons fundamentos, mas que não vê um movimento como o visto até agora.

“Foi um rali muito focado nas vencedoras desse novo mundo pós-pandemia”, avalia, destacando ações de ecommerce e tecnologia, entre elas B2W (BTOW3), que acumula alta de mais de 80% no ano, Magazine Luiza (MGLU3), que sobe cerca de 60%, e Via Varejo (VVAR3), com elevação em torno de 45%.

Em linha com a visão no mercado, ele acrescenta que tem olhado para papéis de companhias que se beneficiam da abertura, como Lojas Americanas (LAME4), Localiza (RENT3), Iguatemi (IGTA3), Vivara (VIVA3) e Eztec (EZTC3), presentes na carteira recomendada da XP para o mês.

“Todas empresas sólidas, bem geridas, com bons fundamentos, mas cujos papéis ficaram um pouco para trás em relação a outros setores, porque foram muito impactadas na quarentena”, explicou.

Nesse grupo, com exceção de Lojas Americanas, que sobe 24% no ano, em boa parte ajudada pelo salto de sua controlada B2W, Localiza recua quase 6%, Iguatemi perde 32%, Vivara cede 23% e Eztec cai 18%.

Segundo Ferreira, ações que caíram muito não necessariamente estão com preço atrativo. Alguns papéis podem ter potencial de valorização e se recuperarem se a situação normalizar, disse, mas é preciso entender o motivo para a queda.

Ele citou o caso das companhias aéreas. Azul (AZUL4) acumula perda de cerca de 60% e Gol (GOLL4) recua mais de 45% em 2020. Há uma preocupação de longo prazo sobre qual será a destruição de demanda estrutural no setor pós-pandemia, avaliou, dada a mudança de hábito.

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Fonte: Reuters.