A pandemia de Covid-19 é variável mais importante para analisar como será a performance da bolsa de valores brasileira, em razão dos potenciais efeitos no crescimento econômico e o quadro fiscal do país, avalia o estrategista-chefe do Itaú BBA, Marcelo Sa.

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Uma continuidade de aumento de casos e mortes em decorrência do coronavírus pode significar novas restrições, com potenciais reflexos no PIB, além de mais recursos para balancear os efeitos econômicos e no sistema de saúde, elevando o risco fiscal.

"A visão sobre a situação fiscal e o crescimento de PIB é o que vai ditar para aonde as ações vão", afirmou Sa, que assumiu a área em fevereiro.

Dados mais recentes do Ministério da Saúde, mostram que o total de mortos da doença no país alcançava até a véspera 279.286 pessoas, com o total de infecções em 11.519.609.

Enfrentando seu pior momento na pandemia, o Brasil é o país que registra atualmente os maiores números diários de mortes e infecções notificadas no mundo na média dos últimos sete dias, de acordo com a Reuters.

Apesar do sentimento mais negativo para a bolsa de valores no curto prazo, em meio à piora macroeconômica e expectativa negativa para a safra de balanços do segundo trimestre no país, por causa da pandemia, Sa espera um ambiente melhor no segundo semestre.

Na semana passada, a equipe de economia do Itaú Unibanco (ITUB4) revisou projeção de crescimento do PIB para 3,8% em 2021 (ante 4%) e elevou a de inflação para 4,7% (ante 3,8%).

Para a taxa de câmbio, a expectativa é de R$ 5,30 por dólar no final do ano.

Entre os componentes que "jogam a favor" na segunda metade do ano, o estrategista destaca a recuperação na economia global em andamento, principalmente China e Estados Unidos.

No cenário norte-americano, ele cita a perspectiva de grande parte da população estar vacinada neste semestre, a aprovação do pacote econômico de US$ 1,9 trilhão e manutenção, por ora, dos juros, quadro que tende a beneficiar commodities.

Em relação ao Brasil, ele destacou uma certa estabilização do risco fiscal com a aprovação da PEC Emergencial, assim como novos contratos para compra de vacinas contra o coronavírus, que devem chegar nos próximos meses.

"Quando aumentar o ritmo de vacinação, vamos começar a ver uma luz no fim do túnel, que é algo que hoje está difícil de verificar", afirmou.

O Itaú BBA prevê o Ibovespa a 135 mil pontos no final do ano, conforme estimativa divulgada no mês passado, que revisou a projeção anterior, de 118 mil.

Nesta terça-feira (16), o Ibovespa oscilava ao redor dos 114 mil pontos.

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Política

No que diz respeito à recente reviravolta na cena eleitoral para 2022, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuperando direitos políticos, Sa destaca que ainda há muitas variáveis em aberto.

"Uma dúvida que se tem é se a entrada de Lula (na corrida presidencial) inviabiliza um candidato de centro, mas ninguém tem essa resposta ainda", afirmou.

Outro questionamento, que reforça o foco no quadro fiscal do país, acrescenta, é se o governo de Jair Bolsonaro buscará a pauta mais liberal ou se irá por um caminho com menor controle da parte fiscal para tentar buscar uma reeleição.

Estrangeiros

Quanto às reformas, Sa observa engajamento para aprovar a administrativa, enquanto se diz "não tão otimista" para a tributária, que considera mais complexa.

O que pode passar neste ano, estima, são microreformas, com a autonomia do Banco Central.

"Seria algo bem importante para investidores estrangeiros ter alguma reforma sendo aprovada", afirma o estrategista do Itaú BBA, após forte saída de capital externo da bolsa neste ano depois do episódio de interferência de Bolsonaro no comando da Petrobras.

"Os estrangeiros estão olhando a questão fiscal e os próximos passos."

Após saldo positivo de R$ 23,6 bilhões de capital externo no segmento Bovespa em janeiro, as saídas superaram as entradas em R$ 6,8 bilhões em fevereiro e continuam prevalecendo em março, em R$ 2,1 bilhões.

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IPOs

Sa não descarta que novas empresas desistam de planos de oferta pública inicial de ações (IPO), em particular se o cronograma de precificação coincidir com momentos de maior volatilidade ou tensão nos mercados, mas enxerga um fluxo de operações ainda muito forte.

Nem a esperada elevação da Selic neste ano, na visão dele, tende a frear essas operações, assim como não deve reverter a tendência de migração de investidores para a bolsa, uma vez que o juro real continuará muito baixo.

O Itaú espera que o Banco Central eleve a taxa básica de juros Selic, atualmente em 2% ao ano, em 0,5 ponto percentual na quarta-feira (17), acelerando o ritmo ao longo do ano e terminando 2021 em 5,5% ao ano.

"Não acho que inviabiliza esse movimento de bolsa", afirmou.

A B3 encerrou 2020 com 3,26 milhões de investidores ativos, quase o dobro do registrado um ano antes, com 407 empresas listadas, de 391 companhias no final de 2019.

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Fonte: Reuters