Uma campanha publicitária levada ao ar pelo Itaú Unibanco (ITUB4) provocou uma forte reação das corretoras de valores e, especialmente, da XP Inc. - na qual o próprio Itaú tem uma participação de 46%.

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Na campanha, lançada em horário nobre na TV Globo, o Itaú bateu de frente no "coração" e em um dos pilares do negócio da XP: os agentes autônomos.

Questionou a remuneração desses profissionais, feita por meio do comissionamento, o que traria o incentivo de que esse agente indique ao seu cliente um produto com a melhor remuneração para ele, e não necessariamente para o cliente.

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Na XP estão acoplados hoje mais de 7 mil AAIs - os agentes autônomos de investimento. Na peça publicitária do Itaú, o ator Marcos Veras diz que a moda de 2019 era ter uma corretora e um assessor de investimentos.

Ele sugere que os profissionais autônomos induzem o cliente a investir em produtos sem saber dos riscos, os fazendo se sentir "reis de Wall Street".

O comercial, criado pela DPZ&T, produção da 02 Filmes e direção de Fernando Meirelles, reforça que os especialistas do Itaú Personnalité - o braço de renda mais alta do banco - são isentos.

Há algumas semanas, o alto-escalão da XP já sabia sobre a propaganda que vinha sendo elaborada pelo Itaú.

Mas o tom de seu principal acionista, os pegou de surpresa, conforme fontes próxima à XP.

A briga seguiu, na última quinta (25), o banco itaú fez uma live explicando o conflito de interesse e remuneração do banco, além de seguir atacando o modelo de assessoria:

XP Faz Contra-Ataque

Ontem, o fundador e presidente da corretora de valores XP Investimentos, Guilherme Benchimol, subiu o tom em publicação em sua conta no Linkedin.

“Estamos há 20 anos lutando contra um sistema financeiro concentrado que nunca inovou e nunca se preocupou com o que realmente importa: o cliente!

Tenho certeza que os bancos preferem o Brasil do passado, com juros altos e baixa concorrência, explorando ainda mais os empresários e os investidores individuais.

Quem nunca recebeu uma oferta do seu banco com um cheque especial abusivo, um empréstimo com as mais altas taxas de juros do mundo, um “investimento” na caderneta de poupança, um título de capitalização desnecessário, um fundo com taxas exorbitantes, um consórcio para bater a meta do fim do mês e assim por diante?

Temos muito orgulho do que estamos construindo. Comecei em uma sala de 25m² como assessor de investimentos e conseguimos, quase 20 anos depois, fazer com que mais de 2 milhões de brasileiros invistam melhor.

Contribuímos para a criação de uma nova indústria, com mais competição, melhores produtos, melhores serviços e mais alinhamento com o cliente.

Desde o início, levamos educação financeira para as pessoas e mostramos que investimento se faz com visão de longo prazo e transparência.

Para alcançar a nossa missão, contamos com mais de 7.000 assessores independentes, que trabalham incansavelmente para trazer as melhores oportunidades para os investidores.

A nova campanha do Itaú ataca o comissionamento dos assessores na distribuição de produtos financeiros, como se ganhar dinheiro com o trabalho fosse errado. Sempre fomos transparentes nisso.

O assessor é um empresário, um empreendedor que tem a sua própria empresa e somente sobrevive se a visão for de longo prazo, com um cliente realmente satisfeito e muita ética em todas as suas atitudes.

Se ele falhar, não poderá mudar de emprego, mas, sim, fechará o seu negócio.

Com certeza temos muitos pontos a evoluir, natural de toda empresa. Mas trabalhamos duro para melhorar sempre e tenho orgulho de dizer que temos o maior índice de satisfação de todo o sistema financeiro brasileiro (NPS de 71 auditado).

Para nós, essa é a melhor prova da sustentabilidade do nosso negócio.

A campanha do Itaú só reforça que estamos no caminho certo.

Para o maior banco do país, com mais de 90 anos de tradição, ir a público e ofender uma profissão tão fundamental para o desenvolvimento financeiro dos brasileiros, é porque realmente percebeu que não consegue mais competir colocando o cliente em primeiro lugar.

Tenho uma certeza: se tem algo que o banco não é, nem nunca foi, é ser feito para você.

Apesar de toda a nossa história, estamos só no começo. Podem ter certeza de que não descansaremos enquanto todos os abusos dos bancos não acabarem.

Nosso propósito: transformar o mercado financeiro para melhorar a vida das pessoas”.

O mesmo comunicado foi compartilhado pela sua conta do Instagram.

Os agentes autônomos também se voltaram contra a propaganda, que se tornou o assunto mais comentado no Twitter no Brasil.

A Associação Brasileira dos Agentes Autônomos de Investimentos (ABAAI) publicou uma nota repudiando o posicionamento do Itaú em relação à categoria.

"A ABAAI defende a transparência nas informações aos seus investidores e respeita todas as atividades profissionais que se relacionam com eles, sejam estes assessores, consultores, planejadores ou especialistas do Itaú Personnalité, que não necessita ser pejorativo com nenhuma delas, para demonstrar seus valores e suas capacitações", disse a associação, em comunicado. 

Apesar da reação, o Itaú afirmou que a campanha não tem alvo e que não haverá nenhuma mudança em relação ao que estava planejado.

Com campanhas, ao longo de sua história, focadas no lado institucional do banco, a ideia, dessa vez, foi mostrar o que o Itaú tem dentro de casa.

"Muitos clientes não sabiam que tínhamos uma plataforma aberta, um atendimento digital. Essa campanha estava sendo pensada desde a virada do ano", disse o diretor do Itaú Personnalité, Felipe Wey, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

A ideia foi abrir a campanha falando de investimentos, algo já do dia a dia dos clientes do Personnalité, mas outros temas podem vir a ser abordados.

O diretor de Produtos de Investimento e Previdência Privada do Itaú, Claudio Sanches, disse que a propaganda se propôs a discutir os diferentes modelos de distribuição no mercado e que o objetivo não foi fazer nenhuma crítica a nenhum deles.

"Há vários modelos e entendemos que o nosso é melhor ao cliente, já que tira da ponta qualquer conflito que possa existir", disse Sanches.

No banco existe uma remuneração fixa aos gerentes e o lado variável se refere à captação de clientes e ao nível de satisfação deles.

"Não estamos dizendo que o agente autônomo tem conflito, mas que o modelo pode levar a conflito".

Quando comprou uma participação da XP em 2016, o Itaú pagou R$ 6,3 bilhões por 49,9% da corretora, avaliando-a, assim, em R$ 12 bilhões.

Hoje a XP possui um valor de mercado de R$ 130 bilhões, se tornando, em termos financeiros, um dos melhores investimentos da história do Itaú.

Após o IPO da XP, a participação do Itaú foi um pouco diluída e está hoje em cerca de 46%.

Na B3, o valor de mercado do Itaú é de um pouco mais de R$ 240 bilhões. Se a XP foi um bom investimento para o Itaú, o negócio acaba de colocar Benchimol na lista dos 20 brasileiros mais ricos do Brasil, de acordo com a revista norte-americana Forbes.

Pelo contrato fechado na época, o Itaú pode, a partir de 2022, aumentar sua fatia na XP, operação que precisará, se concretizada, receber novamente o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Nos bastidores, comenta-se que, dada a concentração que vem se observando nos últimos anos nesse mercado, o órgão antitruste deve barrar um aumento da participação do Itaú.

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Fonte: Com Informações de Estadão Conteúdo.