O cenário que envolve a incorporadora chinesa Evergrande vem gerando pânico nos mercados mundiais. O temor dos investidores é que a gigante do setor imobiliário anuncie um calote, o que poderia respingar no resto do mundo.

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O ​​conglomerado de construção civil tem dívida de US$ 300 bilhões e dá indícios de que pode não pagar os credores

Caso a companhia anuncie um calote, isso pode provocar um efeito cascata que poderia respingar no resto do mundo, já que a China é a segunda maior economia do mundo e o mercado financeiro é todo interligado. 

O primeiro teste para a crise da dívida da Evergrande vem nesta semana. Os investidores estarão atentos para ver se o empreendedor imobiliário chinês será capaz de pagar os juros devidos sobre um título na quinta-feira.

Os temores de um calote iminente da Evergrande fez os mercados globais de ações e criptomoedas despencarem na segunda-feira.

As ações da incorporadora chinesa Evergrande caíram nesta segunda-feira (20) para mínimas de 11 anos.

Nos Estados Unidos, o S&P 500 caiu até 2,4% e o Dow Jones em um ponto abaixo de mais de 800 pontos. No Brasil, o Ibovespa fechou na mínima em 10 meses.

Os movimentos de venda refletiram também no mercado de criptomoedas com o bitcoin (BTC) e o ether (ETH) caindo mais de 5%.

O risco de calote da gigante imobiliária chinesa chegou a ser comparado com a falência do banco Lehman Brothers na crise financeira de 2008, que impactou as principais economias do mundo.

Como ninguém quer viver isso de novo, o efeito manada e a aversão ao risco é grande.

Entenda o que é a Evergrande e por que o mundo inteiro está se preocupando com a segunda maior incorporadora imobiliária da China e os reflexos de um possível calote.

Quem é a Evergrande?

A Evergrande é a maior incorporadora privada da China, responsável por grande parte da entrega de imóveis no país. São mais de 1.300 projetos imobiliários em mais de 280 cidades chinesas. 

A empresa emprega 200 mil funcionários, e seus enormes projetos de construção indiretamente criam mais de 3,8 milhões de empregos por ano, de acordo com seu site.

Fundada em 1996 na cidade de Guangzhou por Xu Jiayin, que já foi o homem mais rico da China, o crescimento da empresa foi vertiginoso. 

Na sua oferta pública de ações (IPO) que ocorreu em 2009, os papéis lançados na bolsa de valores de Hong Kong levantaram o equivalente a US$ 722 milhões.

A empresa, que é a segunda maior no imenso mercado chinês, chegou a ser considerada a maior incorporadora do mundo em valor de mercado em 2018.

A Evergrande faz parte da lista Global 500, da revista Fortune, que reúne as maiores companhias do mundo em receita, apontada como o 122º maior conglomerado do mundo em termos de receita.

A rápida ascensão nas últimas décadas levaram a empresa a investir em outros projetos como carros elétricos, mídia, parques temáticos e um time de futebol, o Guangzhou Evergrande.

A Evergrande é um símbolo dos excessos da bolha imobiliária chinesa, o que por sua vez ajudou a alimentar a economia crescente da China.

Mas muito desse crescimento foi alimentado por um aumento insustentável da dívida.

Seu modelo de negócios aproveitou o crédito fácil para construir com dinheiro emprestado de bancos, fornecedores, clientes e até mesmo dos funcionários.

Esse modelo de dívida alta costuma ser característica comum em empresas de construção pela própria natureza do negócio, uma vez que é necessário colocar dinheiro à frente para financiar projetos.

Contudo, a Evergrande esticou demais o comprometimento de caixa.

Tudo ia muito bem para a Evergrande até que, no fim do ano passado, o governo chinês adotou uma série de medidas para evitar o endividamento na economia chinesa, e do setor imobiliário em particular.

Entre outras, está o conceito de que casas são feitas para morar, não para especular.

Além do aperto do governo chinês frente à especulação imobiliária, a própria desaceleração na atividade econômica em função da variante delta atingiu em cheio os negócios da Evergrande.

Isso gerou sérios problemas de liquidez da empresa que contava com projeções de receita que não se concretizaram no primeiro semestre de 2021.

A Evergrande acumula dívidas de mais de US$ 300 bilhões, o equivalente a 2% do PIB chinês, o que a torna a empresa mais endividada do mundo. 

Seu primeiro compromisso é na quinta-feira (23), onde terá que pagar juros de US$ 84 milhões de seus títulos offshore, e outros US$ 47,5 milhões na quarta-feira, dia 29

O que acontecer na quinta-feira promete ser um evento seminal para os mercados.

Caso a Evergrande perca o pagamento de juros na quinta-feira, a empresa ainda não ficará tecnicamente inadimplente, a menos que não faça o pagamento em 30 dias.

Como começou a crise na Evergrande

O primeiro sinal de que havia um desajuste no caixa da empresa aconteceu em agosto do ano passado, quando a construtora pediu socorro ao governo de Guandong (onde está sediada), pois não teria fundos para pagar dívidas com vencimento em janeiro.

Na época, um dos grandes investidores da empresa capitaneou o alívio e esticou o prazo de pagamento de US$ 13 bilhões.

Ainda assim, a crise de solvência seguiu. A empresa chegou a desenhar um plano para cortar US$ 100 bilhões da dívida até meados de 2023, mas até agosto havia cortado apenas US$ 8 bilhões. 

A agência de classificação de risco Fitch já indicava que algum tipo de calote é “provável”.

A situação chegou ao ponto de, segundo o jornal The New York Times, a empresa “forçar” os próprios funcionários a fazerem empréstimos de curto prazo em setembro deste ano para garantir o pagamento de bônus ao fim de 2021.

Porém, a potencial crise da dívida de Evergrande já vem sendo alertada há anos. 

Em 2012, o ex-vendedor de descobertas Andrew Left escreveu um relatório de 57 páginas alegando que Evergrande usava práticas contábeis duvidosas para mascarar que estava à beira da insolvência. 

Quais os efeitos de um possível calote da Evergrande?

O risco de calote da gigante de construção gera uma série de ameaças, tanto à economia chinesa como aos mercados internacionais.

A maior parte dos empréstimos tomados pela Evergrande saiu de bancos e instituições financeiras chinesas. 

Um calote pode provocar uma reação em cadeia no setor imobiliário e a insolvência de todo o sistema chinês de financiamento.

A instabilidade social também pode ser grande, uma vez que estima-se que a empresa tenha mais de 1,4 milhão de imóveis em construção, que podem nunca ser entregues.

Como a empresa tem um enorme estoque de ativos, estes precisarão ser liquidados às pressas. São terrenos, casas não vendidas, estádio de seu clube de futebol, o que pode provocar uma desvalorização geral no setor.

Junta-se isso ao fato de que a construção civil é um dos motores da economia chinesa e corresponde a cerca de 7% do PIB do país, podendo chegar a quase 25% contando fornecedores e indiretos.

Além dos investidores e da economia chinesa, quem deve sentir mais forte o baque são os principais parceiros comerciais do país, como é o caso do Brasil.

A China é a principal parceira comercial do Brasil, em especial pela compra de commodities como minério de ferro, cobre, entre outros materiais.

Uma desaceleração na China prejudica a balança comercial, a arrecadação e o PIB brasileiro, uma vez que a exportação foi justamente ponto positivo da economia brasileira em todo esse ambiente turbulento do último ano.

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Há motivo para pânico?

Apesar da gravidade, analistas consideram improvável que a crise da dívida de Evergrande na China gere uma crise de proporções similares à que sucedeu a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers em 2008.

Um dos motivos é que a incorporadora imobiliária chinesa já está mostrando sinais de crise há algum tempo.

Desde 2017, a ação da Evergrande já havia caído 50% da máxima, precificando essa restruturação.

O temor só ficou maior agora, pois a empresa se aproxima do vencimento de importantes obrigações com investidores. 

Além disso, há a expectativa entre os especialistas de que o governo chinês intervirá para ajudar a empresa e evitar seu calote.

O presidente Xi Jinping precisa decidir nos próximos dias se cria um plano de resgate a clientes, fornecedores e prestadores de serviços da empresa ou se deixa a Evergrande afundar e coloca em risco toda a economia chinesa.

Vale lembrar que 2022 é um ano importante para o calendário político local.

É a primeira vez que um líder chinês tenta um terceiro mandato e provavelmente vai querer uma economia forte.

O governo chinês ainda não comentou sobre a crise da Evergrande e os investidores seguem cautelosos. 

As ações da chinesa caíram 7% nesta terça-feira após recuarem para mínimas de 11 anos na véspera, com perdas de 10,2%

Para motivar seus funcionários, o CEO da Evergrande, Hui Ka Yuan, enviou uma carta na manhã desta terça-feira (21) agradecendo seus colaboradores e pedindo para que eles se unam para “sair do período sombrio” que estão enfrentando

Na carta, Yuan também afirmou que a Evergrande cumprirá suas responsabilidades em relação aos compradores de propriedades, investidores, parceiros e instituições financeiras.

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