A aquisição do Grupo Big pelo Carrefour Brasil (CRFB3), negócio de R$ 7,5 bilhões anunciado ontem, tem o potencial de expandir as operações da rede francesa no País em diferentes frentes, e coloca a companhia vários passos adiante na corrida do atacarejo, segmento que se tornou a joia da coroa das grandes varejistas no mercado nacional.

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Para analistas, é uma compra altamente estratégica por consolidar a liderança do Carrefour no Brasil.

A ação da varejista encerrou o dia com alta de 12,77% na B3, e a empresa ganhou R$ 4,9 bilhões em valor de mercado.

A transação envolverá um pagamento de 70% em dinheiro e de 30% em ações, que o Carrefour entregará aos atuais acionistas do Big - a gestora Advent e o Walmart.

O negócio cria um grupo com faturamento combinado de R$ 100 bilhões, 137 mil funcionários e 876 lojas, segundo dados de 2020.

A estimativa é de que as sinergias entre as duas empresas cheguem a R$ 1,7 bilhão anuais, valor que não se refere apenas a cortes de custo.

O Carrefour quer fazer com que o Big venda mais e traga um fluxo maior de clientes a seu banco, parte importante do quebra-cabeças da companhia no Brasil.

O País é hoje o maior mercado da varejista fora da França, com 45 milhões de clientes, número que subirá para 60 milhões com o novo parceiro.

"A compra representa um grande salto. As duas empresas são extremamente complementares", afirmou Noël Prioux, CEO do Carrefour Brasil.

Ele destacou a força do Big nas regiões Sul e Nordeste, onde o Carrefour é menos presente, e o apelo a públicos que hoje não são atendidos pela empresa.

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As marcas do Big serão substituídas pelo Carrefour e pelo Atacadão, a depender do tamanho das lojas.

De cara, o Carrefour ganha musculatura no atacarejo, segmento que tem puxado o faturamento e os lucros das grandes redes do setor nos últimos anos.

As 49 lojas do Maxxi, o atacarejo do Big, serão convertidas em Atacadão, e parte dos hipermercados Big terá o mesmo destino.

"Antes da pandemia, o atacarejo já crescia mais. Uma das razões é a de que o atacarejo cumpre a função de abastecimento, com compras 'do mês', que antes era do hipermercado", explica Eugênio Foganholo, da consultoria Mixxer Desenvolvimento Empresarial.

"O atacarejo tem uma oferta que atende a essa compra. E os preços do atacarejo são muito atrativos." 

Contexto

 O peso do preço na disputa pelo bolso do consumidor ficou ainda mais importante em um cenário de crise econômica e inflação em alta.

Há ainda a redução do novo auxílio emergencial dos R$ 600 pagos no ano passado para uma média de R$ 250 neste ano.

Ainda assim, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) estima que o setor crescerá 4,5% neste ano em relação a 2020, ano em que as vendas aumentaram 9%. O dado prova a força do atacarejo.

No quarto trimestre de 2020, as vendas do Atacadão cresceram 32,4%, enquanto as da bandeira Carrefour subiram 8,4%.

Essa diferença entre o atacarejo e o chamado multivarejo (que inclui supermercados e hipermercados) é visível em todo o setor.

O GPA (PCAR3) separou os dois segmentos em empresas distintas justamente para valorizar mais o atacarejo - e o valor do Assaí se multiplicou quase cinco vezes já no primeiro dia de negociação na B3.

O Carrefour, no entanto, não pretende fazer o mesmo. "Nos últimos anos, aprendemos a colocar modelos diferentes juntos sem que um impacte no outro", disse Prioux.

"Nós consideramos que há muitas sinergias (entre atacarejo e multivarejo). Ter um ecossistema global é melhor do que ter um ecossistema separado."

Mantendo as duas vertentes na mesma empresa e agregando o Big, o Carrefour espera ganhar poder de barganha nas negociações com fornecedores, e atrair mais consumidores ao Banco Carrefour.

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Atualmente, o Big tem contrato com a Hipercard, do Itaú Unibanco (ITUB4), para oferecer serviços financeiros.

Após o fechamento da operação, a Hipercard deve dar lugar ao Banco Carrefour. Líder mais forte com a compra, o Carrefour consolida a liderança no varejo alimentar brasileiro.

A consultoria Varese Retail estima que a combinação das empresas vai criar uma gigante que concentrará ao menos 15,3% das vendas do setor no País.

Juntos, GPA e Assaí, que seguem com os mesmos controladores, ficariam com 10,9%, em segundo lugar.

Para o mercado financeiro, esse fortalecimento justifica o preço que o Carrefour vai pagar.

"A aquisição aumenta a liderança do Carrefour e fortalece sua posição na região Sul, notoriamente difícil para nomes de escala nacional", afirmaram Richard Cathcart, João Andrade e Victor Gaspar, analistas do Bradesco BBI (BBDC4).

A transação ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

No ano passado, o órgão aprovou sem restrições a compra de 30 lojas do Makro pelo Carrefour, transação menor que a do Big, mas semelhante em termos de presença geográfica das empresas envolvidas.

Resultado do Carrefour no Quarto Trimestre de 2020

O resultado do Carrefour (CRFB3) no quarto trimestre de 2020 (4t20), divulgado no dia 17 de fevereiro, apresentou um lucro líquido de R$ 935 milhões, alta de 47% em relação ao mesmo período do ano anterior.

O Ebitda ajustado do Carrefour atingiu R$ 1,0 bilhão no 4t20, apresentando crescimento de 25,7% na comparação com o 4t19.

A margem Ebitda do Carrefour totalizou 8,7% no 4t20, apresentando retração de -0,4 ponto percentual na comparação com o 4t19. 

A Margem líquida do Carrefour atingiu 5,0% no 4t20, apresentando crescimento de 0,6 ponto percentual na comparação com o 4t19.

As ações do Carrefour (CRFB3) acumulam alta de 15,42% na bolsa de valores nos últimos 7 dias e alta de 2,40% nos últimos 12 meses.

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Fonte: Estadão Conteúdo.