A Bolsa de Valores pode alavancar diferentes setores da economia, inclusive times de futebol. Embora esta ainda não seja a realidade no Brasil, diversos clubes europeus têm seu capital aberto.

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Na Europa não é difícil encontrar times de futebol com ações listadas na Bolsa. É o caso de grandes clubes como Manchester United, Juventus e Roma.

O futebol está cada vez mais se transformando em um negócio com muito dinheiro envolvido. Patrocínios, direito de transmissão, contratações milionárias, salários altíssimos fazem parte do dia-a-dia desse esporte.

Ainda não existe nenhum clube de futebol na Bolsa de Valores brasileira (B3), porém, isso pode mudar nos próximos anos.

Mundo a fora, a gestão dos clubes vem se modernizando e os tornando cada vez mais eficiente e rentável.

No Brasil, o conceito de clube-empresa gera antipatia para uma parte e esperança para outra.

Na Europa é comum os times também fazem parte do noticiário econômico do país.

Você saberia separar a paixão pelo seu time da razão da bolsa de valores?

Em novembro de 2019, após a venda de 10% do City Football Group, no qual o Manchester City faz parte, para o fundo de investimentos Silver Lake, as ações do seu rival, Manchester United, subiram 10,6%.

Veja como funciona o futebol no mercado acionário e os prós e contras da abertura de capital dos clubes brasileiros.

Futebol na Bolsa de Valores

Assim como acontece com qualquer empresa que deseja ter suas ações negociadas na Bolsa de Valores, os clubes de futebol precisam se tornar sociedades anônimas com capital aberto e realizar um IPO.

Ao se tornarem uma sociedade empresarial, seu objetivo é dar lucro e atrair investidores.

O clube-empresa também deverá prestar informações de forma pública sobre:

  • Atividades realizadas;
  • Dados econômico-financeiros;
  • Práticas de governança.

A abertura de capital requer muitas mudanças na estrutura e na direção dos clubes

Esta passa a ser composta por executivos qualificados e deve prestar contas para o conselho de administração.

Como empresas listadas na Bolsa, os clubes são obrigados a preservar os interesses dos acionistas, distribuir dividendos e buscar a valorização do capital.

Entretanto, os times de futebol apresentam características distintas que podem gerar conflitos de interesse.

É preciso balancear o retorno financeiro e o sucesso esportivo.

Uma vez que resultados ruins em campo podem ocasionar quedas significativas nos preços das ações.

Já a classificação para um torneio internacional pode valorizar suas ações.

Não é de hoje que o futebol passou a ter uma gestão mais profissional e buscar diversificar suas fontes de receita.

A Inglaterra foi o primeiro país a estimular a transformação dos times em sociedades anônimas com o capital aberto na Bolsa.

Posteriormente, o mesmo caminho foi seguido por outros países da Europa.

De acordo com a KPMG Football Benchmark, mais de 20 clubes europeus possuem ações listadas em bolsa. 

Modelo clube-empresa europeu

A transição para o modelo de futebol-empresa teve início no final dos anos 1980, quando o futebol inglês passava por um momento difícil, com baixo nível técnico, dirigentes amadores.

Para piorar, ainda sofria com a presença de torcedores violentos, os chamados hooligans.

A tragédia de Hillsborough, onde 96 torcedores do Liverpool morreram pisoteados e 766 ficaram feridos, serviu de estopim para uma revolução do futebol inglês.

Em 1990, o relatório Taylor instituiu a modernização dos estádios, regulamentação nos ingressos, combate aos hooligans, entre outras medidas para aumentar a segurança nas partidas.

Essa nova configuração levou à criação da Premier League, uma das ligas mais importantes e organizadas da Europa.

Também permitiu que os clubes aumentassem seus ganhos e entrassem no mercado de ações.

Com o IPO, os times arrecadaram dinheiro para melhorar seus estádios, estruturas de treinamento e contratar novos jogadores.

Além de aumentar a competitividade e valorizar o espetáculo, a entrada das equipes na Bolsa de Valores propiciou a seus investidores ganhos extraordinários.

O primeiro time de futebol a lançar suas ações na Bolsa de Valores foi o inglês Tottenham. 

Em 1983 o clube londrino abriu seu capital na London Stock Exchange.

Mas o maior caso de sucesso associado à abertura de capitais por um time de futebol viria oito anos mais tarde quando o Manchester United abriu seu capital.

Em 1991, o Manchester United usou a Bolsa de Valores para arrecadar capital para modernizar seu estádio, o Old Trafford.

Entre 1991 e 1995 as ações do clube valorizaram mais de 500%.

Aos poucos, outras equipes europeias seguiram o exemplo inglês e buscaram abriram capital, tais como as italianas Juventus, Roma e Lazio, Porto, Sporting e Benfica de Portugal, entre outras.

Como funcionam os clubes-empresa na Europa

Enquanto os clubes brasileiros são majoritariamente associações civis sem fins lucrativos, no exterior podem optar por diferentes modelos que envolve sociedades anônimas, capital aberto em bolsa, capital fechado, etc.

Dos 30 times mais ricos do mundo, segundo relatório "Football Money League", da consultoria Deloitte,  apenas dois não são clubes-empresa: Barcelona e Real Madrid.

A dupla espanhola é exceção ao formato S/A no futebol mundial e seguem como associações.

As estruturas societárias dos times de futebol variam de acordo com o país.

Na Inglaterra, existem associações e empresas limitadas, com controle único ou compartilhado, além de clubes de capital aberto.

O Manchester United é controlado pela família Glazer, que detém as ações de classe B do clube.

Já as ações de classe A estão disponíveis para os investidores na Bolsa de Valores de Nova York.

O Manchester City tem a maioria das suas ações na City Football Group, uma multinacional do futebol mundial.

Além do City, o grupo controla também o New York FC, dos Estados Unidos, Girona, da Espanha e Melbourne FC, da Austrália.

Já o Arsenal pertence 100% à KSE (Stanley Kroenke).

Na Itália, o Milan pertence majoritariamente ao hedge fund Elliot Advisors.

A Inter de Milão tem 69% do seu capital nas mãos do grupo chinês Suning Holdings Group.

Enquanto a Juventus pertence à família Agnelli, mas possui 25% de suas ações disponíveis na Bolsa de Valores.

Em Portugal existe uma sociedade anônima específica para o futebol, a Sociedade Anônima Desportiva (SAD).

Assim, as associações civis continuam a serem donas majoritárias, mas podem vender participações na estrutura societária dos clubes para empresários e outras companhias.

Na Alemanha os clubes-empresas precisam ter pelo menos 50% das ações, mais uma, para garantir a soberania em relação às tomadas de decisões.

O Bayer Leverkusen tem 100% das ações pertencentes à Bayer. O Wolfsburg também possui a totalidade de suas ações nas mãos da Volkswagen.

O controle do Bayern de Munique está dividido entre Audi, Adidas e Allianz com 8,33% das ações cada.

Porém, a palavra final é sempre da associação Bayern de Munique que detém 75% das ações.

Na Espanha, uma lei, promulgada em 1990, exigiu que as associações desportivas se transformassem em sociedades anônimas por causa do alto endividamento de seus clubes.

A exceção eram clubes que não tivessem dívidas. Assim, apenas Real Madrid, Athletic Bilbao e Barcelona seguiram como associações.

Independentemente da estrutura societária escolhida, os clubes de futebol tem metas comuns a serem desenvolvidas como fortalecimento da marca, investimento em estrutura e atletas, além da luta por títulos.

Principais times da Europa com capital aberto na bolsa

Há mais de 20 equipes europeias com ações disponíveis na Bolsa de Valores. É o caso de times como:

Manchester United

As ações do inglês Manchester United eram negociadas na Bolsa londrina London Stock Exchange até 2005.

Em 2012 passou a ser listada na NYSE (New York Stock Exchange) sob o código MANU.

Roma

As ações da AS Roma (ASR) estão listadas na Bolsa de Valores da Itália (Borsa Italiana).

Juventus

A Juventus (JUVE) tem suas ações na Borsa Italiana de Milão.

Após a contratação de Cristiano Ronaldo, o preço das ações subiu mais de 570%. 

Borussia Dortmund

O Borussia Dortmund (BVB) é negociado na Bolsa de Frankfurt.

Celtic

O Celtic possui três classes diferentes de ações listadas no mercado AIM da London Stock Exchange sob o código CCP

Lazio

As ações da Lazio (LAZI) são negociadas na Borsa Italiana.

Rangers

As ações Rangers (RFC) são negociadas na Bolsa de Londres. 

Stoxx Europe Football Index

O Stoxx Europe Football Index é um índice criado em 2002 para acompanhar o desempenho econômico de clubes de futebol com o capital aberto.

Ele abrange todos os clubes listados em bolsa de valores na Europa.

Atualmente 22 clubes-empresa fazem parte do índice:

  • AFC Ajax;
  • Juventus;
  • Borussia Dortmund;
  • Trabzonspor Sportif Yatir;
  • Celtic;
  • Galatasaray;
  • Fenerbahce Sportif Hizmet;
  • AS Roma;
  • Olympique Lyonnais;
  • Besiktas;
  • Lazio;
  • Desporto e Entretenimento Parken;
  • Agf;
  • Brondby Se B;
  • Sport Lisboa e Benfica;
  • Teteks ad Tetovo;
  • Silkeborg;
  • Sporting;
  • Aik Football;
  • Aalborg Boldspilklub;
  • Futebol Clube Do Porto;
  • Ruch Chorzow

Clube-empresa no Brasil

Os clubes brasileiros são majoritariamente associações sem fins lucrativos.

Porém, existe um projeto que incentiva os times de futebol se tornarem clube-empresa no Brasil, passando para empresa limitada ou sociedade anônima.

O Projeto de Lei 5082/16 foi aprovado pela Câmara e aguarda avaliação do Senado.

Há ainda a possibilidade de uma possível fusão com outro projeto de lei 5.516/2019, do que visa a criar a sociedade anônima no futebol, ou seja, uma estrutura exclusiva para o esporte.

Essas duas propostas permitem que os clubes que aderirem ao formato sejam futuramente listados na Bolsa de Valores.

Conforme a Confederação Brasileira de Futebol (CBF),  existem 83 clubes que utilizam o formato de “clube-empresa”, mas nenhum time de futebol ou de nenhum outro esporte listado na bolsa brasileira.

Em 2018, o Botafogo de Ribeirão Preto passou a ser administrado como uma S/A (sociedade anônima) fechada, com dois sócios, sendo o próprio clube e a empresa Trex Holding.

O clube já manifestou interesse em abrir capital na bolsa quando estiver consolidado na elite do futebol brasileiro.

Em 2019 o Bragantino passou a ser gerido pela multinacional de energéticos Red Bull, que também comanda outras três equipes no exterior, passando a se chamar Red Bull Bragantino.

Outro time que passou a ser gerido como S/A foi a Ferroviária, de Araraquara, após ter 49% comprado por Saul Klein, herdeiro das Casas Bahia.

De acordo com o Itaú BBA, responsável pela confecção do relatório que analisa os balanços financeiros de times de futebol, atualmente existem 5 times no Brasil que poderiam ter sucesso na bolsa.

Seja pela qualidade da gestão e pelo grande poder de arrecadação devido a sua grande torcida, como é o caso do Palmeiras e Flamengo.

Ou pelo orçamento equilibrado e destaque regional, do Chapecoense, Atlético Paranaense e Bahia.

Prós e contras dos Clubes de Futebol na Bolsa

Os clube-empresa muitas vezes esbarram na encruzilhada entre gerar lucros ou conquistar títulos.

Toda empresa tem por objetivo o lucro. Porém, quando se trata de um time de futebol, eles também almejam conquistas e títulos.

O grande desafio é conciliar os dois, mantendo equilibrados os investimentos e o bom rendimento dentro e fora de campo.

Para conquistar títulos é preciso investimento em estrutura e contratação de atletas. Porém, com um alto investimento pode não obter lucro.

Isso pode piorar se além do alto investimento, a equipe não conquiste nada.

Por outro lado, as empresas precisam captar recursos para esses investimentos e entrar no mercado acionário é uma fonte de captação que poderia diminuir as dívidas destas associações.

Para entrar na Bolsa de Valores é necessário um novo modelo de gestão, mais transparente e profissional, uma vez que fiscalização seria muito mais rígida.

Além do formato empresarial, os clube-empresas também pagam impostos como empresas, isto é, sofrem maior tributação.

Na Inglaterra, torcedores do Arsenal chegaram a fazer protestos contra os administradores do clube, por acharem que estes estavam mais preocupados com a parte financeira do clube, do que com a conquista de títulos.

Já os torcedores do Manchester United vivem insatisfeitos com a atitude dos proprietários de não aportar dinheiro no futebol e apenas tirar generosos dividendos.

Todos os modelos têm seus prós e contras. Irá depender da capacidade do gestor e das pessoas envolvidas fazerem um bom planejamento.

Desempenho dos Clubes na Bolsa de Valores

De acordo estudo da KPMG Football Benchmark publicado em 2017, o desempenho em campo e no mercado de ações não está diretamente relacionado.

Enquanto a Juventus viu suas ações subirem em 2016 após a conquista de um título. O português Benfica, que também conquistou um título nacional, viu seus papéis se depreciarem em 6%.

O placar final de apenas um jogo também pode aumentar a volatilidade dos papéis.

As ações da Roma, por exemplo, subiram 23,71% um dia após o time eliminar o Barcelona na pelas quartas de final UEFA Champions League.

Acontecimentos fora de campo também impactam o preço das ações dos clubes de futebol.

Era isso que queria um homem detido em 2017 após atacar com explosivos o ônibus do Borussia Dortmund durante as quartas de finais da UEFA.

Tudo isso por conta de uma especulação com opções.

Após operar alavancado e comprar opções de venda de ações do Borussia, esperava era que as ações do time despencassem com a repercussão do atentado.

Ao invés o lucro com a operação, ele conseguiu 14 anos de prisão.

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Comprar ações de times de futebol vale a pena?

Antes de investir em ações de clubes de futebol, é importante separar a emoção dos investimentos.

Afaste o lado torcedor que gostaria de comprar ações do time de coração, do seu lado investidor que leva em consideração os fundamentos da empresa/clube e sua rentabilidade.

Embora a oferta e demanda sejam determinantes para a definição de preço, no caso dos clubes outros fatores influenciam os papéis, como:

  • Transferências de jogadores;
  • Finanças da equipe;
  • Patrocínios;
  • Resultados dos jogos.

Assim como qualquer outra ação, antes de investir é preciso estudar o clube de futebol por meio da análise fundamentalista. Dessa forma, conseguirá uma visão melhor da empresa.

E você, investiria em clubes de futebol?

Se sim, compraria ações do seu time?