Banco Central queima reservas cambiais do Brasil para conter alta do dólar. Será que o país pode ficar sem reservas internacionais para enfrentar a crise do coronavírus?

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Com a recente disparada do dólar devido à pandemia do Coronavírus, alta de X% em março, o Banco Central do Brasil (BCB) teve que utilizar as reservas cambiais para controlar o câmbio.

Mesmo com a utilização das reservas cambiais do Brasil, motivo de forte debate político, dados do relatório de gestão de reservas divulgados ontem (01), apontam níveis elevados para padrões internacionais.

Os parâmetros utilizados pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), considera o Brasil conta com saldo para honrar com os compromissos imediatos da dívida externa, importações e saldo investido em aplicações domésticas.

Mas será que o Brasil pode quebrar?

Reservas Cambiais

O Brasil encerrou o ano de 2019 com reservas cambiais de US$ 356,88 bilhões e no final de 2018, o valor era de US$ 374,72 bilhões. 

A principal razão para essa redução foi o conjunto de operações de intervenção no mercado à vista para conter a alta do dólar, realizadas ao longo do segundo semestre de 2019. 

Do final de 2019 até hoje, o BC usou US$ 17,84 bilhões das reservas internacionais, para encarar a disparada da moeda americana, devido ao impacto do coronavírus e a queda dos preços do petróleo.

Veja a evolução das Reservas Cambiais do Brasil:

Gráfico: Volume das reservas cambiais do Brasil 2001 a 2019
Gráfico: Volume das reservas cambiais do Brasil 2001 a 2019. Fonte: BC

Fonte: BC.

Apesar deste uso massivo das reservas, o patamar atual está bem confortável para o Brasil, quando comparado com outros países emergentes, inclusive acima da gigante China:

PaísÍndice
Rússia3,14
Brasil1,60
Índia1,58
México1,16
China0,83
Argentina0,79

Fonte: BC.

De acordo com os parâmetros do FMI o índice satisfatório seria em uma faixa de 1 a 1,55 (100% a 155%) e o Brasil está atualmente com 1,60.

Veja a evolução do índice de adequação das reservas cambiais do Brasil:

Gráfico: índice adequação das reservas cambiais do Brasil
Gráfico: índice adequação das reservas cambiais do Brasil. Fonte: BC e FMI.

Fonte: BC e FMI.

Banco Central Queima Reservas

De fato o governo atual está utilizando as reservas que estavam sendo acumuladas com maior força nos últimos anos e não utilizadas.

O motivo do Brasil possuir uma reserva cambial tão alta se deve ao fato de que o real não é aceito em transações internacionais de crédito ou comércio, assim como outros países emergentes.

Porém, muitos acreditam que o país está perdendo patrimônio, ao consumir com as reservas internacionais, o que acaba sendo usado em debates políticos, mas é um erro básico lidar o assunto desta forma.

Todos os dólares em reserva foram comprados através de uma dívida pública, gerando juros mais altos do que os que são utilizados no exterior.

O Banco Central ao utilizar a reserva cambial, recebe o montante em reais, diminuindo assim a dívida do governo e equilibrando a situação do orçamento da união.

Até que ponto o governo pode deixar as reservas cambiais caírem?

Alguns especialistas acreditam que há espaço para a venda de até US$ 70 bilhões, mantendo o mínimo de 2014, já outros consideram que o governo pode baixar ainda mais.

A questão que está em jogo é utilizar com sabedoria, para que o governo tenha força para eliminar as oscilações bruscas em momentos de crise, como a atual pandemia do Coronavírus.

Até Onde vai Alta do Dólar

Como o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, falou, esse instrumento é utilizado somente para evitar a disfuncionalidade do mercado e não tem a intenção de “escolher” uma taxa de câmbio adequada, ou seja, o regime de câmbio é flutuante.

No entanto, reforçou que o BC dispõe de um arsenal farto para futuras intervenções.

Isso quer dizer que o BC não gastaria reservas para evitar uma alta do dólar para R$ 6,00, por exemplo.

Futuramente, o dólar alto pode beneficiar o setor exportador brasileiro, o que pode favorecer a nossa balança comercial e melhorar ainda mais a nossa posição de reservas internacionais.

Ex-ministro da fazenda, o economista Nelson Barbosa, coloca que há bastante espaço para o Brasil intervir no mercado de câmbio.

Gustavo Loyola, ex-presidente do BC, coloca que há margem para o uso de munição, mas deve-se tomar o cuidado com o desperdício.

Brasil Pode Quebrar?

Antes de qualquer coisa, adiantamos: o Brasil não vai quebrar.

O que não quer dizer que não teremos que pagar algum preço.

Além de ainda possuirmos um nível confortável de reservas de acordo com os parâmetros do FMI, possuímos um sistema financeiro muito sólido, o que nos permite manobras pontuais como as de uso de reservas para conter a volatilidade da taxa de câmbio.

Por último temos que lembrar que carregar essas reservas internacionais possuem um custo alto para o nosso país.

Uma vez que os títulos em moedas fortes que o Brasil detém rendem menos juros do que os títulos públicos brasileiros que foram vendidos para o exterior, o que levanta a questão de que ter reservas em excesso também pode gerar algum custo fiscal indesejado.

Esse diferencial de juros entre as moedas acaba gerando uma despesa para o BC.

Por fim, ainda é difícil de antecipar o impacto do Coronavírus na economia brasileira.

Essa parece ser uma crise muito mais deflacionária do que inflacionária, o que talvez force o Brasil a baixar ainda mais os juros, dado que teremos impactos na renda, emprego e, consequentemente, na demanda agregada.

Assim como os movimentos do exterior, o governo federal e o Banco Central estão dando estímulos sem precedentes para minimizar os danos na economia, com políticas anticíclicas à moda Keynes.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que fará o possível para manter o emprego e a renda e disse que, ao passar a crise, também deverá se preocupar em reduzir a dose do remédio.

É natural que haja um impacto nas finanças públicas no curto prazo, mas a ausência de medidas poderia trazer um impacto ainda pior, já que o desemprego poderia ter trajetória explosiva, o que aumentaria o número de pedidos por seguro-desemprego e queda na arrecadação tributária decorrente da queda do consumo das famílias e de investimentos do setor privado.

Todas essas medidas garantem solvência para muitas empresas e mesmo que tenham algum impacto no futuro, o mercado, por ora, finge que não está vendo, uma vez que há consenso de que tais medidas são necessárias, uma vez que cada vez fica mais clara a falta de evidências de que uma flexibilização da quarenta melhoraria a questão econômica.

O próprio ministro Paulo Guedes admitiu que uma flexibilização precoce poderia estender a crise aumentar o impacto do Coronavírus na economia. 

Com as medidas adequadas tomadas com antecedência, passada a crise, teremos um terreno fértil para a retomada do crescimento e continuidade de reformas.

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